Performance
Sarará

Referência da fotografia
Referência do vídeo
Sarará
Performance- escultura, 2016
Fragmento de texto por Clarissa Diniz, extraído do livro “Paula Scamparini”.
“Paula é branca De cabelos claros e crespos.É como popular e quase sempre pejorativamente são tipificados os “sararás” no Brasil, um corpo de características mestiças Sarará é também o título de uma ação Sarará (2016) realizada por ela em um grupo de alunos e alunas, todos os negros, durante a qual tem tem os cabelos secos. em círculo, no misto de descontração embaraço, com pentes diversos, vão atravessando seus muitos cachos, desalinhando-os e, eriçando. Como uma das únicas pessoas de pele branca é fundamentalmente dada a presença artista que aquela coletividade se denomina como Sarará- termo que, índice de da complexidade étnico-social perpetrada pela colonização, mostrou-se como a única adjetivação possível entre “nós”. Tal como Nós- Tukano, Sarará foi uma arapuca montada pela artista para colocá-la como um sujeito que ocupa o lugar de branquitude.
Ainda que seus cabelos tenham sido desde cedo objeto de delicada atenção- como no tríptico Nus (2002) ou em Cartografando o Impossível (2012), no qual mapas da França cujas rodovias haviam sido percorridas pela artista são emaranhadas pela sobreposição de tufos de seus cabelos-, Sarará representa em sua obra a primeira vez que em que são racializados. Contudo, certo movimento nesse sentido já vinha sendo esboçado quando a artista produziu a série Verboten (2014), um conjunto de fotografias nas quais seu corpo nu e multiplicado, configurando cenas de narrativa circular, tem sua rostidade a um só tempo é anulada pela presença de uma presença de uma profusa cabeleira negra : um de seus amontoados de tripas que, tingidas preto desde 2012 vinham habitando o imaginário de sua obra como as Pretinhas.
Nesse processo de racialização , entendendo-se e problematizando-se como branca, Paula Scamparini tem fundamentalmente tomado Portugal como pano de fundo para seus pensamentos e gestos poéticos. Em razão de uma sequência de residências realizadas em diferentes cidades do país, tem podido experimentar a posição de ser, em nossa antiga Metrópole, uma ex-colônia. circulando pela Europa na condição de artista do Sul global percebe-se lida como não branca- qualquer identidade difusa entre a latino- americana e a brasileira - ao, passo que sabendo-se sarará, tem igualmente a consciência de, no Brasil, ocupar o privilegiado lugar da branquitude.
É desde essa complexa e contraditória imbricação identitária que, uma vez em território português, Paula tem produzido trabalhos que, por se endereçarem às leituras do colonialismo europeu e do imperialismo marítimo português em suas próprias terras, são obras contextualmente específicas. Suas eventuais “remontagens” fora do contexto pelo qual foram concebidas seriam, assim, emulações avizinhadas àquela vocalização de nós-Tukano”.
Referência Bibliográfica
DINIZ, Clarissa. SCAMPARINI, Paula. Paula Scamparini. Rio de Janeiro:Oi Futuro, 2019. Sarará.