A pedra no meio do caminho
Gabriel de França Caetano
Para instaurar o reino da paz, não é em absoluto necessário destruir tudo,
nem dar nascimento a um mundo totalmente novo; basta deslocar apenas
esta xícara ou este arbusto ou esta pedra, fazendo o mesmo para cada
coisa. (Walter Benjamin)
Dizem que quando nos deparamos com uma pedra temos três opções: contorná-la, pulá-la ou destruí-la. Em A pedra no meio do caminho (2019), penso uma quarta: carregá-la comigo. Nos ombros, transporto a pedra falante para diferentes lugares de passagem e a deixo por um tempo, para que se torne acontecimento nas tão fatigadas retinas que pelo caminho se aventuram a passar.
No livro de Lucas, mais especificamente no capítulo 19, Jesus responde aos fariseus que se seus discípulos se calarem as próprias pedras hão de gritar. Nesse mesmo capítulo, Jesus expulsa os que transformam a casa de oração em lugar de venda, “um covil de ladrões”.
No tempo em que rios e florestas são recursos, e o ar se torna moeda de troca para se falar de medidas contra o aquecimento global, pois é a única linguagem que entende o capital, me pergunto o que hão de gritar as pedras. O que e como responderá a Terra aos que transformam essa casa em um covil de ladrões, onde ganham alguns na degradação do todo, e segue o povo na cansada dormência de suas retinas.
A pedra no meio do caminho, 2019
realizado em lugares diversos entre a Ilha do Fundão, Ilha do Governador, Catete, São Cristóvão, Santíssimo, etc.
pedra que recita o poema No Meio do Caminho, de Carlos Drummond de Andrade
pedra e caixa de som
28 x 22 x 20 cm